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Tila: tenho um novo estilo de fuga em caso de vergonha extrema. Ir ao alçapão que dá para o porão, abrir a fantástica porta e me esconder do mundo lá onde ficam guardados baús antigos de família.
Dário: que te faz pensar que haja necessidade desses subterfúgios bem agora?
T.: confiei cegamente em sentimentos e agi de acordo. Veja, sou apenas humana, o coração não é onisciente.
D.: coração cego. O discóbolo perdeu o rhytmus.
T.: mas como assim?
D.: na Grécia Antiga, o discóbolo era um atleta que atirava discos, no entanto, antes que o lançasse havia esse momento que os gregos chamavam de rhytmus
que era prévio ao lançamento em si e em que rapidamente e preparativamente o lançador ficava parado em harmonia e equilíbrio, como na estátua de Míron.
T.: está me chamando de desequilibrada, ora, veja que entendo bem. Acho que vou procurar determinado alçapão agora mesmo.
D.: se fosse você, procurava praticar a busca pela legitimidade dos atos, ao invés de ficar tão sorumbática aí pelos cantos escusos da casa.
T.: como se faz?
D.: não sei bem. Mas imagino que tenha a ver com não confiar cegamente num coração ou outro, seu ou de outros, se é que me entende.
T.: andar de galocha, proteger-se.
D.: até parece que já estamos usando a razão.
(...)


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